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Lis Helena

Bolsos: uma história de machismo estrutural

A luta das mulheres por igualdade também está relacionada a moda e a historia dos bolsos ilustra esta questão


É evidente que a moda diz muito sobre a sociedade e o período histórico no qual se vive. Os bolsos, por exemplo, carregam muita história. As roupas dos homens são sempre cheias deles. Bolsos grandes, confeccionados pensando em suas necessidades. De fato, feitos para aguentar muitos objetos. Estão presentes em casacos, calças, camisas, e até dentro de outros bolsos. Em contrapartida, as peças femininas raramente têm bolsos. E, quando têm, eles são pequenos e fracos. Como disse Christian Dior, em 1954: “homens tem bolsos para guardar coisas, mulheres, por decoração.” 


Até o fim do século XVII, as pessoas utilizavam as chamadas algibeiras, uma espécie de sacola amarrada embaixo das vestimentas - como uma pochete - que servia para guardar itens necessários. Porém, tal acessório não apresentava grande segurança, uma vez que se perdiam e eram roubados facilmente. Assim, com o passar do tempo, os alfaiates começaram a costurar os sacos de pano diretamente nas calças e paletós, dando origem aos bolsos.


Mas, adivinha só? As mulheres ficaram por fora dessa tendência. Com a mudança estética em relação às roupas femininas, vestidos com grandes saias e volumosas anáguas saíram de moda. As peças perderam camadas para marcar a silhueta, e, desse modo, não havia espaço para as algibeiras e muito menos para os bolsos. Foi assim que surgiram as reticulés, bolsas de mão bem pequenas (e inúteis), comuns entre as mulheres de classes sociais mais altas. Enquanto isso, a parcela feminina da classe trabalhadora utilizavam os bolsos, já que eles apresentavam grande praticidade e funcionalidade.


Os anos passam, e com a Segunda Guerra Mundial, as mulheres se veem obrigadas a ‘’substituir’’ os homens em suas tarefas, trabalhando em fábricas e usando calças e jaquetas, com bolsos! Mas, isso não durou muito tempo. A partir do final da guerra, a moda voltou a trazer roupas extremamente delicadas e apertadas. E, nesse tipo de visual, não havia espaço para bolsos. No final dos anos 90, a calça jeans skinny de cós baixo virou febre e expulsou de vez o bolso, que era visto como um vilão fashion que engordava.


Uma pesquisa do site The Pudding comparou os bolsos de mais de 80 calças de 20 marcas mais populares dos Estados Unidos e concluiu que, em média, os bolsos em jeans femininos são 48% menores mesmo tendo uma boca de tamanho parecido (6.5% menor) que os bolsos masculinos. De modo geral, os bolsos frontais das calças femininas são realmente menores do que os dos homens, e a disparidade de tamanho limita muito o que as mulheres podem guardar com segurança em seus bolsos (se eles existirem, né?). Para quem usa roupas femininas, esse é um problemão, mas pra indústria de bolsas, de 8 bilhões de dólares, não. 


A historiadora de moda, Barbara Burman fala, em seu livro Pockets of History: The Secret Life of an Everyday Object, que a falta dos bolsos ajudou com que as mulheres se sentissem excluídas e longe de assuntos como posses e economia, sendo um símbolo da opressão e do machismo. Toda essa história sobre o bolso da mulher é incrivelmente política e passou a fazer parte da luta por liberdade e a independência. Embora os bolsos possam parecer uma questão banal, eles são um objeto que personifica o sistema patriarcal e ilustra como a sociedade sexista funciona em mínimos detalhes, ao restringir o espaço no qual as mulheres podem manter as coisas seguras e obter a praticidade. Para as mulheres é uma questão de igualdade. 


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Lisley Helena Cruz, nascida em São João del-Rei e residente em Lagoa Dourada, em Minas Gerais, tem 18 anos e estuda Comunicação Social- Jornalismo na UFSJ. Escreve desde cedo e encontrou no Jornalismo e no Projeto de Extensão 'Por Outro Olhar' uma maneira de expressar suas opiniões e compartilhar suas perspectivas.


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