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This is Not America: o grito latino ao imperialismo


Cena do clipe de "This is not America", do rapper Residente — Foto: Reprodução/YouTube

“Aquí estamos, siempre estamos, no nos fuimos, no nos vamos” (Aqui estamos, estamos sempre, nós não estamos saindo, nós não vamos, em tradução livre), inicia o refrão da canção “This is Not America” do porto-riquenho René Pérez, conhecido como Residente, em parceria ao duo cubano Ibeyi. A letra e clipe carregam críticas e expõem as veias abertas de um continente que sofreu e ainda sofre com o imperialismo.


O título da canção é uma diss, termo utilizado no hip-hop para apontar uma faixa que responde a uma anterior ou até mesmo ao seu autor. No caso do porto-riquenho, a frase é uma complementação da famosa canção de 2018, "This is America", performada por Donald Glover (Childish Gambino). Há cerca de quatro anos, a música viral evidenciava os casos recorrentes de injúrias raciais em território estadunidense. País este que não se cansa de referir-se como a “única América”.


Para os latino americanos, Residente proporciona um desengasgo de séculos. Em quase quatro minutos apresentou ao mundo um continente machucado, mas que caminha. No início do clipe, a primeira referência: uma intervenção feita pelo artista chileno Alfredo Jaar, que em 1987 escreveu a frase “This is Not America” em um painel eletrônico na Times Square. Introduzindo perfeitamente o tom do trabalho do músico. Trazendo ainda mais sensibilidade, o artista traz reconstituições de cenas que chocaram o mundo: famílias separadas que se arriscam para atravessar a fronteira com os EUA. Seriam eles os “emigrantes sin papeles” (imigrantes sem documentação) citados na cifra.



Cena do clipe de "This is not America", do rapper Residente — Foto: Reprodução/YouTube

Em colaboração com o premiado diretor Gregory Ohrel, Residente desfila seu misto de utopia e tragédia latina americana, seja em cenas mostrando a Estátua da Liberdade com a figura de um Sioux (povo nativo da América do Norte), com crianças indígenas sobre embalagens da Amazon e McDonald’s, maras salvadorenhos e zapatistas em balaclavas. Em contato direto ao Brasil, a representação de Bolsonaro comendo um bife mal passado e se limpando na bandeira do próprio país enquanto uma criança nativa o assiste.


O auge do clipe está em uma cena, com referência ao assassinato do músico Víctor Jara pela ditadura de Augusto Pinochet, no Chile, enquanto cita “This is America”, de Childish Gambino, quando Residente diz: “Gambino, meu irmão, isso sim é América”. Em contexto irônico, o rapper ainda dá uma “aula de Geografia”: a América se inicia na Terra do Fogo (conjunto de ilhas no extremo sul americano) e vai até o Canadá. Para o músico, dizer que América é sinônimo dos Estados Unidos, é como afirmar que a África é só composta por Marrocos.


Pode-se dizer que Residente produziu o que se chama de “canetada” no ramo musical. O propósito da canção não é dizer se Gambino está errado ou não, e sim trazer uma composição única que incendeia o sangue do povo americano, este em busca de igualdade e respeito. A cultura representada no clipe em meio a cenas de violência retrata a metáfora de nossas vidas. Os batuques, as danças, os gritos, as alegrias e tristezas, a canção é forte e musicalmente impecável. Trilha sonora perfeita para revoluções, manifestações e protestos, afinal, aqui estamos e sempre estaremos.


Clique no vídeo abaixo para assistir o clipe oficial:



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