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The Man in the High Castle: uma análise para que a história não se repita

Com a ascensão da extrema-direita, grupos supremacistas aproximam a nossa realidade com a da série The Man in The High Castle

A HISTÓRIA NÃO PODE SE REPETIR - Série da Amazon Prime conta como seria a realidade se o nazismo vencesse a Segunda Guerra Mundial. (Repdrodução: Amazon Prime Vídeo)

Sei que é incômodo e uma atrocidade ter a suástica, símbolo que representa o nazismo, um regime totalitarista que matou milhões de pessoas, no principal telão da Times Squares, em Nova York. Na verdade, essa é uma cena de The Man in The High Castle, a série premiada da Amazon Prime Video. A produção traz vida, cor e imagens à distopia distante de Philip K. Dick. Uma distopia que conta como seria se o Eixo tivesse ganhado a 2ª Guerra Mundial, e muito mais do que uma simples ficção científica, nos faz questionar o real sentido de aprender com a história, para que ela não se repita.


Em 2020, o ex-secretário da cultura, Roberto Alvim, parafraseia o texto de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de ninguém menos que Adolf Hitler, o maior ditador e genocida que nesse mundo já existiu. E é nesse contexto que The Man in The High Castle entra. A série aborda de forma franca, e sem medo, a realidade do século XXI tomada pelo nazismo. Um dos momentos mais chocantes é um rito de passagem e celebração, na 3ª temporada, com a derrubada da estátua da liberdade, dando lugar para uma estátua que celebra um “Novo Dia” com a hegemonia nazista. Entre esses fatos, está o de jovens, por terem alguma doença ou modificação, se entregarem ao governo para a morte ao acreditar que estão fazendo o bem para uma nação.


Além disso, a propaganda nazista, as formas de controle da população e a devoção ao III Reich é demonstrado com bastante profundidade e nudez. Em nenhum momento a produção tenta diminuir o peso do que o regime nazista foi, o que pode parecer até incentivo da série, mas já é uma outra discussão. A obra também conta como há uma resistência formada contra o nazismo, e como negros, pasmem, ainda escravizados, formam alianças para tentar acabar com essa realidade. No meio de toda essa história, ao ver cenas tão chocantes e o apagamento de judeus, negros, e LGBTQIA+, literalmente nos perguntamos: e se?


E por que, depois de tanto tempo, uma simples distopia ainda causa medo e horror? Simples, uma pesquisa recente da Unicamp indica que os comportamentos antissemitas ainda crescem no mundo. Além de ainda existirem grupos que se intitulam “neonazistas” e de pessoas que não vêem mal em andar com uma suástica no braço. Um relatório para o Estudo de Ódio e Extremismo da Universidade da Califórnia apontou crimes antissemitas em Nova York, Los Angeles e Chicago. Além disso, em 2020, no auge da extrema-direita nos Estados Unidos, durante uma celebração do Hanukkah, festa de tradição judaica, um homem entrou dentro da casa e esfaqueou 5 pessoas. Como se não bastasse, houve proliferação de suásticas e discurso de ódio popular no Queens, também em Nova York.


A Europa, a mais afetada pelos ataques diretos e pelo comando de Hitler, registra o aumento de grupos antissemitas e discursos nazistas e neonazistas. Na França, o relatório do Comitê de Direitos Humanos registrou um aumento de 74% dos ataques antissemitas de 2018 para 2019. No Reino Unido, foram registrados 1652 incidentes por discursos de ódio. Ainda mais, na Alemanha, palco e início de todas as atrocidades causadas por Adolf Hitler, foram registrados 1646 ataques. Na França, lápides de judeus foram pichadas com imagens que faziam apologia ao nazismo. Um dos motivos para esse aumento de ataques é a tomada de poder pela extrema-direita e o aumento da imigração por grupos desfavorecidos.


Ainda que pareça absurdo, visto que o Brasil é um país que seria amplamente exterminado por Hitler, por conta da nossa mistura de raças e por ser um país latino-americano, a Unicamp registrou em sua pesquisa 334 células nazistas no país. O mapeamento foi feito pela antropóloga Adriana Magalhães Dias e, segundo ela, esse universo se divide em 17 movimentos: Hitleristas, supremacistas/separatistas, negadores do Holocausto e Ku Klux Klan. A maior parte desses grupos estão localizados em São Paulo, seguido por Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. É importante lembrar que, no Brasil, a lei N° 9.459, desde 1997, ampliou o escopo dos crimes de racismo e também incluiu outros delitos como fabricar, comercializar, veicular símbolos ou ornamentos que tenham a suástica ou gamada para divulgar o nazismo.


Desse modo, vale lembrar de um episódio marcado pelo documentário “Menino 23”, de 2016, dirigido pelo professor e historiador Sydney Aguilar Filho, que documentou o trabalho escravo feito por negros durante o período ditatorial no Brasil, quando existiam apenas dois partidos, ARENA e MDB. O documentário conta três histórias de homens negros que passaram sua infância na escravidão, ao trabalharem para grandes fazendeiros. E ainda, traz a questão da ideologia nazista ter chego ao Brasil rapidamente, quando mostram que em algumas dessas fazendas há símbolos nazistas e suásticas em partes das casas e até marcados em tijolos.


Diante dessas afirmações, é possível dizer porque The Man in The High Castle causa tanto pavor. Nós não estamos muito longe da distopia que a Amazon Prime Video nos apresenta, apesar de parecer. Entendem aquele texto “estudar a história para que ela não se repita”? Nunca antes foi tão necessário que se faça isso e que se mostre as atrocidades de um regime completamente assassino. Também, lembrar todos os dias como o exército vermelho derrotou os nazistas, como os Aliados venceram a guerra, manter a memória fresca de que a democracia é imprescindível para nós e que não podemos aceitar nada menos que isso. Seremos resistência.

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