top of page

Hat-trick e racismo velado

No seu terceiro álbum de estúdio, "Ladrão", Djonga, aborda diversos temas que a comunidade preta e parda sente na pele todos os dias

No seu terceiro álbum de estúdio, "Ladrão", Djonga, um dos maiores nomes do rap nacional da atualidade, aborda diversos temas que a comunidade preta e parda sente na pele todos os dias. A primeira faixa, ‘’HAT-TRICK’’, termina justificando o nome da obra:

Desde pequeno geral te aponta o dedo/ No olhar da madame eu consigo sentir o medo/ Cê cresce achando que cê é pior que ele/ Irmão, quem te roubou te chama de ladrão desde cedo.

Esse complexo de vira lata da negritude é alimentado todos os dias, na maioria das vezes, de maneira velada. Por isso, quando o racismo é escrachado e direto, ele choca, causa mobilizações, sensibiliza. Esse foi o caso do crime, que ocorreu em Valinhos no estado de São Paulo no fim de Julho, contra um motoboy. O nome do entregador é Matheus Pires e o vídeo do episódio foi publicado no Facebook ganhando fama na internet. O agressor, branco e de classe média, dentre outras coisas, atira insultos como "Você tem inveja disso aqui (mostra a pele). Você nunca vai ter” e “Seu lixo. Você tem inveja dessas famílias aqui”.


E como já foi dito, choca. Porém, também é isso que o olhar torto na rua significa, é isso que significa esconder a bolsa quando vê um preto na rua, é isso que quer dizer o fato de que o analfabetismo entre negros é quase o triplo que entre brancos. Há dois anos, a branquitude se compadeceu pelo assassinato de Marielle. Há dias, compadeceu-se por George Floyd e pelo "Black lives matter". Mas e quanto ao racismo que não viraliza? E aquele racismo do cotidiano? Aquele que seu parente, ou seu amigo, ou até mesmo você cometeu? Esse não gera likes.


Entretanto, ainda pior que aquele que se indigna de maneira seletiva, é aquele que - pasmem - defende o racista. Além da comoção generalizada que o caso, citado anteriormente, causou, por mais incrível que pareça, algumas pessoas demonstraram compaixão pelo agressor. É comum encontrar comentários, nas redes sociais, alegando que o homem do vídeo estava sem seus medicamentos e que pessoas erram. Entretanto, racismo não é deslize. Racismo é crime inafiançável. Passar pano apenas estagna a ignorância e dá brecha para a proliferação desse tipo de comportamento.


Vivemos em um país estruturalmente racista que normaliza situações de injustiça e perpetua uma sociedade escravocrata. A população negra é maioria no Brasil, mas, não ocupa livros de história, não se destaca em novelas, não é representada na política. As feridas da escravidão não cicatrizaram até hoje. A democracia racial é uma mentira deslavada e, ainda assim, há quem acredite. Enquanto o anti-racismo está em pauta, deve-se cobrar para que ele saia do papel.

Ladrão, então peguemos de volta o que nos foi tirado/ Mano, ou você faz isso ou seria em vão o que os nossos ancestrais teriam sangrado.

...


Lisley Helena Cruz, nascida em São João del-Rei e residente em Lagoa Dourada, em Minas Gerais, tem 18 anos e estuda Comunicação Social- Jornalismo na UFSJ. Escreve desde cedo e encontrou no Jornalismo e no Projeto de Extensão 'Por Outro Olhar' uma maneira de expressar suas opiniões e compartilhar suas perspectivas.


...

Referências e dicas de leitura




RAPLOGIA: Djonga lança o álbum "Ladrão". Acesso em 12 de agosto de 2020.


bottom of page