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Cinema e educação

Motivos que fazem do cinema uma manifestação que vai muito além do lazer

Imagem: Aneta Pawlik on Unsplash

Ao pensar na palavra cinema, é provável que grande parcela das pessoas faça uma associação imediata a atividades de lazer e fruição, o que, sem dúvidas, é um dos aspectos importantes do cinema na vida cotidiana. No entanto, além disso, as obras cinematográficas também podem agregar ao desenvolvimento intelectual e cultural dos sujeitos.


Os filmes são capazes de evidenciar realidades sociais, políticas e históricas amplamente diversificadas, de modo a fomentar nos telespectadores o questionamento acerca destes diferentes contextos. Segundo Bruno Pereira - licenciado em Física (UFMG) e mestre em Educação e Docência - o cinema é uma ferramenta cultural poderosa, pois possibilita que o indivíduo se conecte com experiências narrativas distintas daquelas às quais ele está acostumado em seu ambiente cultural de pertencimento.


Nesta perspectiva, o cinema pode ser uma ferramenta didática essencial na educação brasileira, uma vez que amplia significativamente o repertório cultural dos estudantes e incita o debate de questões socialmente relevantes. Diante disso, em 2014, a então presidente da República, Dilma Rousseff promulgou a Lei 13.006, efetuada pelo senador Cristovam Buarque, que torna obrigatória a exibição de duas horas mensais de filmes nacionais ao currículo escolar do Ensino Fundamental. Contudo, ainda existem problemas estruturais que impedem o cumprimento da legislação, como elencado por Bruno Pereira. "A disponibilidade de espaços e equipamento adequado para a exibição das produções audiovisuais ainda é o maior problema. Além do fato de que a maioria dos docentes não recebe, em seus cursos de origem, orientação acerca da regulamentação de direitos autorais, o que os deixa temerosos de se apropriar das obras para exibição, mesmo que escolar”.


Diante destas dificuldades, o professor Bruno, que coordena o projeto de extensão Cineclube Cidadão (realizado no IFMG Campus Betim), idealizou uma pesquisa a fim de compilar sites que disponibilizam filmes nacionais de domínio público, ou seja, obras que podem ser exibidas pelos professores sem receio em relação aos direitos autorais. Ele explica: “Existem ambientes e repositórios na internet hoje que permitem acesso à produção nacional, que deve ser exibida. Contudo, muitos docentes não reconhecem estes sítios, infelizmente. A divulgação se faz urgente. O projeto Cineclube Cidadão realizou um levantamento no ano de 2019, apontando alguns destes ambientes virtuais e descrevendo as necessidades de ampliarmos o seu uso na educação”. O documento citado elenca sites que podem ser utilizados não somente por professores, mas por qualquer pessoa que se interesse em assistir obras nacionais de modo gratuito e dentro dos parâmetros legais.


Ainda, o professor de física ressalta que, assim como nas demais esferas acadêmicas, o cinema pode ser de grande relevância para o ensino das ciências da natureza, uma vez que diversos fenômenos naturais, que os alunos aprendem em sala de aula, podem ser exemplificados nos filmes, como ele afirma. “A intersecção entre os campos Física, Química e Biologia – que dividimos tradicionalmente no ensino médio – ocorre de forma natural nos filmes, o que estimula a interdisciplinaridade. Nada melhor, para a educação científica, uma vez que o universo não funciona com os fenômenos divididos em áreas, mas na interseção dos conhecimentos”.


Por fim, Bruno destaca a importância do cinema para que os estudantes compreendam o conhecimento científico como um processo e não como ideais imutáveis, “Podemos apresentar e debater, com os estudantes, a ciência como uma construção histórica, fruto de embates e perspectivas diferenciadas. Apontar falhas e virtudes, a importância do método científico, não como verdade absoluta, mas como uma construção que se estabelece pelo consenso da comunidade científica”. O docente ainda aponta outros aspectos importantes do uso do cinema na educação básica em seu artigo.


Portanto, é de extrema relevância que ampliemos nosso conceito sobre cinema, a fim de que possamos reconhecer seu papel cultural e educacional. Da próxima vez que você for assistir a um filme, convido-o a refletir sobre as temáticas envolvidas na narrativa e o porquê de elas terem sido representadas no contexto apresentado.


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Maria Eduarda Mendonça é natural da região metropolitana de Belo Horizonte, tem 18 anos e estuda jornalismo na UFSJ. Vê no jornalismo e no projeto Por Outro Olhar uma oportunidade de conhecer diferentes pontos de vista. 

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Referências e dicas de leitura:

BRASIL. Lei n° 13.006, de 26 de junho de 2014. Obriga a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de educação básica. Diário Oficial da União, Brasília, DF, v. 134, n. 248, 27 jun. 2014. Seção 1, p.1.


FRESQUET, A. MIGLIORIN, C. Da obrigatoriedade do cinema na escola, notas para uma reflexão sobre a lei 13.006/14. Cinema e Educação: A lei 13.006 – reflexões, perspectivas e propostas. Universo Produção, Belo Horizonte, 2015


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